Amor, Casamento e Hacafot
Por Yanki Tauber. Baseado nos ensinamentos do Rebe
De forma geral, os homens não costumam se sentar, tomar café e conversar entre si a respeito de seus casamentos. Por isso, esta conversa em particular entre três homens chamou-me a atenção - estávamos discutindo as alegrias da vida de casado.
hamou-me a atenção - estávamos discutindo as alegrias da vida de casado.
"Amo minha mulher," disse Jacó. "Por isso, faço tudo que ela me pede. Ela diz: Jacó, por favor, ponha o lixo para fora,' e eu tiro o lixo imediatamente."Todos concordamos que Jacó ama sua mulher.
Para não ficar para trás, digo: "Também faço tudo que minha mulher me pede. Na verdade, ela nem precisa falar claramente aquilo que deseja. Basta dizer: "Puxa vida! Aquele saco de lixo está fazendo toda a cozinha cheirar mal!' para que eu entenda que ela deseja que eu tire o lixo. O que eu faço logo, é claro."
Todos concordamos que amo minha mulher ainda mais do que Jacó ama a sua.
Mas ao final, ficou claro que o casamento de David tinha mais amor que os outros. A mulher dele não precisa pedir ao marido para que faça coisas para ela. Nem ao menos precisa fazer insinuações. "Acordei esta manhã" explica David, "e já sabia que ela queria que eu pusesse o lixo para fora. Ou que lhe comprasse um anel de brilhantes. Ela não precisa enrugar o nariz ou mencionar o anel que sua prima Sara ganhou pelo aniversário. Apenas sei o que ela deseja que eu faça para ela, e faço."
O mês de Tishrei é pleno de mitsvot - repleto de oportunidades para cumprir a vontade de D'us. Por mais de três semanas, nossos dias estão ocupados com preces, arrependimento, jejum, festejos, danças, construção da sucá, aquisição das "Quatro Espécies" ou um amarrado de hoshaanot, e dezenas de outras mitsvot, costumes e observâncias.
A observância de Tishrei divide-se em três categorias gerais. Há os "preceitos bíblicos" que são explicitamente ordenados na Torá, como o toque do shofar em Rosh Hashaná, o jejum em Yom Kipur, ou ainda fazer as refeições na sucá em Sucot. Existem também algumas "mitsvot rabínicas" - observâncias instituídas pelos profetas e sábios, pela autoridade neles investida pela Torá. Por exemplo, os cinco serviços de prece feitos em Yom Kipur e o uso das Quatro Espécies em todos os dias, exceto no primeiro dia de Sucot (quando é uma obrigação da Torá), são instituições rabínicas.
Finalmente, o mês de Tishrei tem muitos "costumes", tais como comer uma maçã embebida no mel na primeira noite de Rosh Hashaná, ou fazer o caparot nas primeiras horas da manhã na véspera de Yom Kipur. Os costumes não são ordenados por lei bíblica ou rabínica, mas pela força do hábito: são coisas nas quais nós, judeus, nos iniciamos, como maneiras de ampliar nosso serviço ao Criador.
O mais surpreendente é o clímax do mês de Tishrei - o ponto no qual nossa celebração de nosso vínculo com D'us atinge o pináculo do júbilo - é durante as hacafot de Simchat Torá, quando pegamos os rolos da Torá nos braços e dançamos com eles ao redor da mesa de leitura na sinagoga - uma prática que não é bíblica nem é um preceito rabínico, mas "apenas" um costume.
Pois é com nosso cumprimento dos costumes que expressamos a profundidade de nosso amor a D'us. Os mandamentos bíblicos poderiam ser comparados aos desejos expressos de forma clara entre duas pessoas ligadas pelo casamento. As mitsvot rabínicas, nas quais D'us não nos instruiu diretamente, mas que mesmo assim constituem expressões da vontade Divina, assemelham-se aos pedidos apenas insinuados entre os cônjuges. Mas os costumes representam aquelas áreas nas quais sentimos intuitivamente como podemos causar prazer a D'us. E aí está nossa maior alegria.
Sicha do Rebe (Leil Simchat Torá 5722)
Conta-se que uma indivíduo comum foi observado certa vez alegrando-se especialmente em Simchat Torá. Alguém perguntou a ele: "Por que está se alegrando em Simchat Torá? Aprendeu bastante Torá durante o ano?"
Ele respondeu: "Quando meu irmão casa uma filha, eu não deveria tomar parte na sua alegria?"
Esta é a resposta da pessoa simples, segundo o melhor do seu conhecimento. No entanto, para falar a verdade, Simchat Torá não é "o casamento da filha de um irmão", a alegria de outra pessoa, mas sim o júbilo pessoal de todo judeu. Não é derivado da sabedoria da Torá, na qual existe uma distinção entre um judeu e outro; a alegria brota da essência da Torá, que é relevante a todo judeu, igualmente.
Se estivéssemos celebrando Simchat Torá através do seu estudo, a distinção entre um erudito de Torá e uma pessoa simples seria destacada; no entanto, ao dançarem juntos – o mais notável dos sábios e a pessoa mais simples são iguais.
Além disso, para a pessoa simples o júbilo é mais puro que para o erudito de Torá, pois é provável que a alegria do erudito seja "adulterada pelo" júbilo de compreender a Torá, o que não ocorre com a pessoa mais simples.
Além do mais, se estivéssemos nos alegrando com a Torá por meio do estudo e análise, o júbilo estaria limitado segundo o grau de compreensão; no entanto, quando nos alegramos com a essência da Torá, o júbilo não tem limites.
Leia sobre as Grandes Festas (e Simchat Torá).