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kitniyot-debatePergunta

Eu sou Ashkenazi (Judeu descendente da Europa Ocidental) e minha esposa é Sefaradi (uma Judia do Oriente). Ela cresceu comendo arroz em Pessach, o que o costume de minha família jamais permitiria. Todo Pessach, nós temos a mesma discussão: como isso pode ser, nós não somos todos parte da mesma religião? Como um grupo de Judeus pode comer arroz em Pessach e outro grupo não pode? Nós não somos parte da mesma religião? Isso não é um exemplo de como a Torá pode ser interpretada de muitas maneiras, e de que não existe um Judaísmo verdadeiro?

Resposta

Na verdade, quando você compara o modo que os Judeus Ashkenazi e Sefaraditas celebram Pessach, você ficará surpreso não com as diferenças, mas com as semelhanças. As discrepâncias são tão pequenas e externas que elas apenas provam a regra - nós somos um povo com uma Torá.

Os Judeus são proibidos pela Torá de comer ou sequer possuir produtos fermentados em Pessach. Isso significa qualquer produto feito dos cinco grãos (trigo, cevada, espelta, centeio, aveia), exceto a matsá, não podem ser comidos ou em sua posse pelos oito dias de Pessach. Judeus que vivem em certas áreas tiveram um rigor extra e proibiram arroz e legumes em Pessach.

Os Judeus do Oriente, no entanto, não adotaram este costume. Talvez as condições de cultivo e armazenamento destes produtos em suas terras não justificassem essa precaução extra. Isso significa que o menu do Seder de uma família Judia do Iraque ou do Iêmen será bem diferente do que é servido em uma mesa de Judeus Alemães ou Húngaros. Os Sefaraditas comerão arroz, ervilhas, feijão e milho. Os Ashkenazis não.

Mas esse é apenas o cardápio. Se você olhar para todos os outros aspectos do Seder, eles são quase idênticos de uma comunidade para a outra. Para ilustrar isso, imagine o seguinte cenário.

Pegue um Judeu Persa do século 9, e transporte-o através do tempo para a Polônia do século 19. Depois de atravessar o globo e dar um salto mil anos para a frente, ele chega em uma época e em uma terra totalmente estranhas à ele. Ele anda pelas ruas em transe, completamente perdido e deslocado.

Mas leve-o a um Seder, e ele irá sentir-se totalmente em casa. A família anfitriã pode parecer diferente na cor da pele e nas vestimentas, e eles podem comer comidas Ashkenazi que não são familiares a seu paladar Persa, mas o Seder será exatamente igual ao Seder de sua família em casa. Ele irá ouvir as crianças perguntarem as mesmas perguntas que seus próprios filhos lhe perguntam. Ele irá comer a mesma matsá e ervas amargas, irá beber os mesmos quatro copos de vinho, e irá ler as mesmas orações e citações bíblicas. Mesmo as canções, ainda que cantadas de forma diferente, terão as mesmas letras em Hebraico.

E ainda mais importante, ele irá ouvir exatamente a mesma história, a história que toda família Judia conta todos os anos por mais de três mil anos, a história de nossos ancestrais em comum que eram escravos no Egito até que D-us os libertou.

Nós ainda somos um povo.

Isso não é nada menos do que incrível. Dois mil anos de exílio não enfraqueceram nossa conexão interna. A dispersão por todo o globo não enfraqueceu nossos laços de história compartilhada e destino unido. Mesmo com toda a fragmentação e partidarismo que nós tanto reclamamos, nós ainda somos um povo. Isso é sentido mais do que nunca em Pessach.

Ao invés de focar nas disparidades superficiais entre as comunidades, olhe para a nossa conexão interna. Nós estamos todos contando a mesma história. D-us nos tirou do Egito para nos fazer uma nação, unida pela Torá, nossa história em comum e nosso objetivo comum. Alguns comem arroz, alguns não, e isso não importa; Nós somos uma família, os filhos de Israel.